terça-feira, 27 de dezembro de 2011
CALA-TE
Recolhi-me ao silencio da montanhas impenetráveis do espírito para orar.
Meu espírito se recolhe e se faz silencio.
Tiro as sandálias do querer porque neste confim o solo é santificado.
Não me é dado querer. Não, não é.
Em completa solitude guardo os ensejos de minha alma para talvez uma outra vida, depois de muitas outras.
Que pode fazer a alma que vislumbra o enlevo e a alegria ao alcance de suas mãos e não pode toca-la?
Resignar diz o mestre coração. Alguns vieram para tudo ter e tudo poder porque já venceram a si mesmos. Outros devem aprender a vencer-se mesmo em detrimento ao próprio coração.
Oh Mestre que me mostrou a lépida visão de airosa flor e me disse: não a toque. Nem mesmo aspire-lhe o perfume. Deita-a ao caminho para os viandantes e segue com teu cajado.
Aqui na montanha o silencio fala ao coração que deseja ouvir. Eu te ouço, oh silencio!
Ouço na tentativa de calar o grito de meu coração. Ele não cala, ele não quer calar.
Seguirei pelo caminho ouvindo-lhe os brados até que ele se canse e se faça mudo.
Mudo de querer as estrelas que pertencem ao infinito, as flores que verdejam pelos caminhos e aromam outros espíritos.
Eu te ouvi mestre, e te obedeço. A alma sente o peso da imensa cruz que se descortina, mas a força da fé me ajudará a carrega-la e a despedir-me da imensa alegria que como vulto airoso mostrou-se e se foi para ser alegria a tantos outros.
Prece feita devo deixar a montanha e seguir andando, olhando as flores ao longo da estrada, com saudade da rosa, das estrelas e do infinito amor que por instantes fez brotar a felicidade.
Cala-te coração, porque o maior dos Amores se doou em amor
Cala-te alma, pelo amor do amor segue em frente, porque seguir amando é teu único caminho
Cira Munhoz.
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