terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ENSAIANDO VÔOS


ENSAIANDO VÔOS


Ensaiando vôos

Quando algo turba minha paz, gosto de morrer. Deixo morreu o Eu e tudo volta a ser ventos de paz. Vento brejeiro e benfajezo.
Porque independente do que há em mim, lá no fundo do meu Eu, só o amor vale a pena.
Por isso gosto de morrer. Tanto que já nasci morrendo. Um pouco a cada minuto e nesse morrer constante renasço lépida como a borboleta que vence o casulo.
Amo borboletas pois elas me ensinam a morrer lagarta e renascer para o voo. E se por fora finjo que já desisti de tudo, há dentro de mim uma força hercúlea que me move, remove e reconstrói.
Eu aprendi a voar depois de saber rastejar, andar e galgar o muro que meu Eu me impôs por séculos.
O único rumor que há em mim é o farfalhar de asas borboleteando entre um morrer e outro.
Alguns me acham rasa exatamente quando sou profunda. Outros me veem profunda quando as aguas do entender mal alcançam meu entendimento.
Minha alma é leve porque aprendi a voar e voando aprendi que o céu é o limite e entre voar e limiar os céus, morrer de si, do Eu é o verdadeiro encontro com a vida.
Sou paradoxo, sou prolixa, sou preguiça de viver no acalanto dos afãs vãos e perdidos em mesmice.
Saí do sonho para brincar nas arenas. Nas arenas da vida aprendi a morrer para conhecer a vida. E vivo. E estou viva e não morrerei facilmente, afinal aprendi a voar e quando se voa só o céu é o limite. E lá entre o voar e o limiar dos céus descobre-se que não se morre nunca, apenas se deixa os casulos de lado: do apego, do egoísmo, do medo de não viver.
Cira Munhoz- ensaiando voos

O QUE SÃO LÁGRIMAS

O QUE SÃO LÁGRIMAS?
Estava entre um trabalho e outro quando percebi algo indelével, quente, quase ardente.
Toquei meu rosto na tentativa inútil de estancar aquilo que apesar de aparentemente saírem de meus olhos, num espasmo saiam de meu coração.
Olhei meus dedos molhados a questionar: afinal, o que são lágrimas?
Gotas benfazejas que suavizam o coração? Ou o coração que goteja sufocado?
Que são lágrimas afinal? Algo que tem vida própria e chega sem ser chamado?
Ou é o coração que precisa de refrigério e avisa aos olhos: preciso sair, respirar...
Talvez a emoção escondida e calada que se manifesta, debatendo-se, cristalizando-se em líquido incolor, inodoro e ainda assim tão marcante.
Não compreendi a lágrima, só a emoção. Não entendi meus olhos, mas ouvi meu coração.
De repente percebo que não sei coisa alguma, já que até dentro de mim existe uma rebelião entre a sensatez e o sentimento.
Logo, compreendi a lágrima. Ela é a manifestação de minha alma que sabe que um pedaço meu está longe, além do oceano, além de meus braços, e ainda assim dentro do meu coração.
Deixo que saiam (as lágrimas) elas sempre voltam. Não há o que fazer quanto a isso. Afinal quem manda mesmo é o tal do amor incondicional, mesmo que carregado de saudade.
Cira Munhoz

AMADURECI

AMADURECI
Andei divagando a respeito do meu sorriso, antes fácil e rápido, aos poucos percebi que ele anda sumido. Perdera eu a alegria ou algo mais intenso estava acontecendo? Então descobri que várias pessoas estão passando pelo mesmo processo, tão intenso que chega a ser físico.
E apesar de amadurecer tornar mais fértil e nova a nossa visão fica também menos festiva, mas com certeza de uma riqueza sem precedentes.
As marcas profundas que ficam são apenas para nos lembrar que vivemos e superamos. E passamos a ver encantos novos em coisas novas, abolimos o que não é mais necessário ao nosso crescimento, á nossa vida.
Amadurecer é uma descoberta incrível daquele eu paradoxal, novo, profundo e analítico.
Se passamos a ter um discernimento maior sobre as questões, se conseguimos analisar, nada mais correto que encerrar ciclos.ciclos são fases únicas em nossas vidas.tem começo e fim.
E, passado o luto desse fim de ciclo, algo novo se descortina. Amigos se vão, outros chegam.
Problemas se solucionam, mais problemas à frente se fazem conhecer.
O importante é liberar o que (ou quem) quer que seja e seguir em frente.
Nem todos fazem assim e ficam carregando e descarregando mágoa por onde passam, infiltrando negatividade em qualquer ação ou posição que tomamos. Faz parte da vida a não aceitação de determinadas pessoas nosso novo posicionamento diante da vida.
É quando o Eu se descortina e se desnuda que somos mais duramente atacados e condenados, afinal rompemos os cabrestos que nos dirigiam. Isso não é bem aceito.
Mas isso é crescer, ter a coragem de caminhar sozinho, pensar sozinho, agir sozinho.
Isso é amadurecimento, como aquele bebê que precisava de uma mão para apoiar-se e de repente aprende a caminhar sozinho. Algumas atitudes egóicas não aceitam que nos levantemos e andemos sozinhos. Nossa releitura incomoda.
Incomoda porque passamos a ver com outros olhos e analisar por outros prismas as atitudes, palavras, vivencias. E toda vivencia é cíclica.Nunca igual.
E, se há em nós o desejo de evoluir, crescer, amadurecer, porque deveríamos ficar estagnados em situações desnecessárias? É preciso ter coragem para ter uma postura coerente com a madureza espiritual. Sair do lugar comum do euzinho, bonzinho, tadinho.
Amadurecer é descobrir os próprios limites e potencialidades, sem gurus, sem sermos seguidores de ninguém. Parar de repetir padrões pré determinados por este ou aquele, porque cada experiência e vivencia é única.

Então, ao procurar meu sorriso, vi que ele está onde sempre esteve dentro de mim.
Que sendo imortal estou livre, eu sou o respirar, eu sou o Eu renascido. E ninguém vai me dizer quem eu sou, ou como sou. Reconheço-me como um ser que despertou.
Eu sou a iluminação que eu desejava ser, e a encontrei dentro de mim. Sou o espírito que não é prisioneiro do corpo, das convenções e conveniências. Sou livre porque acordei. E acordando me tornei livre. Livre para ser banida de relacionamentos “amigos”, livre para ser excluída, e...quem diria... feliz. A felicidade que só a liberdade pode nos dar.
Estou em casa, minha casa coração. Uma casa que aos poucos tem sido remodelada, reconstruída, porque não há nada maior do que saber que despertei.
E despertar é fazer o que é certo e correto, independente das palavras dos sábios que me dizem faça assim ou assado.
Amadureci, cresci e aprendi a andar. Há um preço a pagar pelo amadurecimento, mas esse preço nem de longe é maior que a grata satisfação de me assumir diante da vida, posicionar-me dentro do meu próprio nível evolucional.
E percebo que com essa madureza nada mudou ou vai mudar: cada um fará e dirá exatamente o que quiser, independente de minha postura, do meu re-nascimento.Tudo seguirá seu curso, como um rio que contornando as pedras chegará ao mar.
Não podemos ficar entre o presente e o passado, há um futuro se descortinando aqui e agora.
Por isso deixei ir, liberei, deixei livres aqueles que optaram por seguir suas vidas e me deixarem a margem do caminho. Porém muitos ainda não descobriram que a grande madureza nessa vida não é saber o caminho, é trilhar o caminho.
Amadurecendo cresço, crescendo me torno livre, sendo livre não haverá barreira alguma que possa toldar minha postura diante da vida. Sei quem sou, o que sou, e o que jamais quero me tornar: conivente e conveniente.
Cira Munhoz

É A GOTA

É a gota. É a ultima pedra.
É a roda que geme ao peso do carro.
É o engenho que range sem óleo e sem fim.
É a cruz que é pesada e o ombro é torto
É a gota. É o cansaço. É o peso morto.
É a ultima pedra, lápide da esperança.
É assim. É assim.
Jesuuuuuuus, e não é nem um milimetro
do percurso que voce percorreu por mim.
Cira Munhoz

EU ESTOU AQUI E ALI ONDE A BELEZA ME CHAMA

EU ESTOU AQUI E ALI ONDE A BELEZA ME CHAMA.
VEJO GAIVOTAS QUE REVOAM ONDAS ÁVIDAS DE BEIJAR A AREIA.
VEJO POMBOS SE FARTANDO NA PRAÇA COM MIGALHAS E ALEGRIAS.
VEJO A PRAIA VAZIA E A AREIA A ENLAÇAR MEUS PÉS INCONSTANTES.
AO LONGE O SOL BEIJA A AGUA TINGINDO-A DE COR DO AMOR,
VERMELHA E INTENSA A AGUA INVADE MEU SER.

EU ESTOU AQUI E ALI ONDE A BELEZA ME CHAMA.
TENTANDO SEGURAR O TEMPO QUE ME FOGE ENTRE OS DEDOS.
A FLORA DESNUDA PELO INTENSO OUTONO DA VIDA,
DEIXA RASTROS EM MEU CAMINHO.

PISO FOLHAS E TEIAS VIVIDAS E DESCOMPASSADAS
PELO SORVER INTENSO DO RESPIRO DA ALMA.
AH... A BELEZA QUE EXISTE NOS ERROS E DESCAMINHOS,
DEGRAUS PERCORRIDOS UM A UM,
EM AGRURAS VESTINDO MEU MELHOR SORRISO.

E, CÉLERE O PENSAMENTO VIAJA POR PARAGENS BELAS,
A PROCURA DE MAIS E MAIS BELEZA, ATÉ QUE ME DEPARO
COM O ESPELHO IRONICO A MINHA FRENTE.
OLHOS ABERTOS, CORAÇÃO ABERTO, ALMA ATENTA
ENCONTRO A RESPOSTA QUE TANTO PROCURO LA FORA.

VER O BELO É AMAR DESMEDIDAMENTE A TANTOS
QUANTOS MEUS OLHOS POSSAM VER.
AMAR O CÉU QUE INVADE MINHA RETINA,
O ESTRANHO QUE ME DIZ BOM DIA
AMAR MINHA PROPRIA ESTRANHEZA
EM PROCURAR TANTO LA FORA,
O QUE TEM QUE BROTAR DE MIM.

CIRA MUNHOZ

QUAESTIO FACTI


QUAESTIO FACTI

E AGORA?
PRA ONDE IREI
SE ME SEGUEM PASSOS QUE NEM SEQUER SÃO MEUS?
SE TENTEI EM TERRAS DE OUTREM PLANTAR
AS SEMENTES QUE ADQUIRI.
E AGORA? QUE DIREI?
SE FALEI COM SURDOS
E AS PALAVRAS SE ESGARÇARAM?
E A UM CANTO PEGARAM MEU CANTO
TECENDO EM DESENCANTO
O QUE CANTO QUE EU CANTEI.

AGORA, A UM CANTO
OLHO NOS OLHOS DO DESENCANTO
O CANTO QUE PRATIQUEI.
E AS SEMENTES QUE ME DESTE, DEUS?
ONDE PLANTAR SE A TERRA É FRIA... E DURA!
E O DESENCANTO CANTA A UM CANTO
TROÇANDO DE MIM...
E AGORA?
E OS TRÔPEGOS QUE LEVANTEI PELO CAMINHO?
EM RESSONÂNCIA ME TIRAM AS VESTES
E DÃO-ME Á FACE COMO ENLAÇE
O MUDO DISFARCE DAS MÁSCARAS QUE NÃO VI.
E AS PALAVRAS ESGARÇADAS SE PERDEM
EM BOCAS AMARELADAS DE UM SORRISO HOSTIL.
NO DESENCANTO DO CANTO QUE CANTO.
A UM CANTO VEJO O DESENCANTO A TROÇAR DE MIM
ONDE O IRMÃO? ONDE O AMOR? ONDE O ONDE AFINAL?
E AGORA, O QUE DIREI?
SE FALEI COM SURDOS
E AS PALAVRAS SE ESGARÇARAM
SE PLANTEI SEMENTES
EM SOLOS QUE NÃO A QUEREM RECEBER?

AGORA?
GUARDAREI AS SEMENTES
NÃO AS DAREI A ESSAS MENTES DEMENTES.
CALAREI A PALAVRA AOS OUVIDOS HIPÓCRITAS E VÃOS.
RESOLVIDA A QUESTÃO. QUAESTIO FACTI!!
SÓ UMA PERGUNTA ME RESTA:
ONDE ESTÁ O MEU IRMÃO??
30-01-11

UMA ROSA


Da airosa rosa o perfume sutil
Tocou-me o peito, e um nó na garganta.
Oh deuses! Porque o teste ferrenho?
Se nunca encontrei a rosa que beija estrelas
Agora no ocaso, mo dás como dádiva.
Acalento a rosa como quem tece o rosário,
Em suaves contas por entre meus dedos.
Oh deuses! Porque o teste ferrenho?
Se a vós pedi por uma vida inteira uma única rosa, sem nunca te-la
Agora mo dão e nem digna sou da rosa.

O orvalho dela me lavou muitos anos de alma ferida.
De qualquer forma, oh deuses que testam os viventes
Sou grata pela estrela, pela rosa e pela redenção
Que seu perfume me trouxe.
De outras esferas ... de outras esferas...
Me chega a rosa, e eu despreparada
Nem digna sou da rosa.
Cira Munhoz

A ALMA

A ALMA
Oh alma, que ouves da minha alma o som e o verso
Donde estiveste todos esses éons?
Porque o júbilo me traz assim remotas lembranças?
Tu és alma, e alma eu sou livres dessa matéria
Nada nos prende aqui.
Se foste por tantas eras o fogo vivo de minha lâmpada
Ora te mostras tão altaneiro e tão distante...
Como em órbita celeste qual lua em esplendor... inatingível.

Cira Munhoz



Oh alma que ouves da minha alma o som e o verbo
Ala-me contigo nas nuvens que habitam os mestres
Ala-me. Ata-me para que as almas irmãs não se percam jamais
Ala-me na plumagem de tua alma, oh alma!
Para que eu nunca me perca: de tuas asas, do teu amor e
Da complacência dos mestres.
Ala-me alma. Ata-me na redenção dos Iniciados.
C.Munhoz.

CALA-TE



Recolhi-me ao silencio da montanhas impenetráveis do espírito para orar.
Meu espírito se recolhe e se faz silencio.
Tiro as sandálias do querer porque neste confim o solo é santificado.
Não me é dado querer. Não, não é.

Em completa solitude guardo os ensejos de minha alma para talvez uma outra vida, depois de muitas outras.
Que pode fazer a alma que vislumbra o enlevo e a alegria ao alcance de suas mãos e não pode toca-la?
Resignar diz o mestre coração. Alguns vieram para tudo ter e tudo poder porque já venceram a si mesmos. Outros devem aprender a vencer-se mesmo em detrimento ao próprio coração.

Oh Mestre que me mostrou a lépida visão de airosa flor e me disse: não a toque. Nem mesmo aspire-lhe o perfume. Deita-a ao caminho para os viandantes e segue com teu cajado.

Aqui na montanha o silencio fala ao coração que deseja ouvir. Eu te ouço, oh silencio!

Ouço na tentativa de calar o grito de meu coração. Ele não cala, ele não quer calar.

Seguirei pelo caminho ouvindo-lhe os brados até que ele se canse e se faça mudo.

Mudo de querer as estrelas que pertencem ao infinito, as flores que verdejam pelos caminhos e aromam outros espíritos.

Eu te ouvi mestre, e te obedeço. A alma sente o peso da imensa cruz que se descortina, mas a força da fé me ajudará a carrega-la e a despedir-me da imensa alegria que como vulto airoso mostrou-se e se foi para ser alegria a tantos outros.

Prece feita devo deixar a montanha e seguir andando, olhando as flores ao longo da estrada, com saudade da rosa, das estrelas e do infinito amor que por instantes fez brotar a felicidade.

Cala-te coração, porque o maior dos Amores se doou em amor
Cala-te alma, pelo amor do amor segue em frente, porque seguir amando é teu único caminho
Cira Munhoz.

TUAS MÃOS

TUAS MÃOS

Quando o amor me tomou as mãos nada me pediu.

Apenas quis andar comigo de mãos dadas, no silencio profundo da alma ele apenas sorria, o sorriso da aceitação.

E o amor me levou por caminhos internos, questionamentos e respostas.

Pôs-me flores no caminho e paz na alma. Uma certa inquietação como cabe a todo amor que quer saciar o coração amado.

O amor me sorri e me traz novamente o riso e o sonho. Não a ilusão, mas o sonho.

E minha alma reaprendeu o canto.

Nada quero de voce amor, apenas seguir te amando.

Meus olhos nunca verão o rosto amado, mas o coração já o conhece.

Amor não tem forma definida pois em tudo que se olha ali está a vibração do amado.

Um dia, talvez já na imensidão onde vivem as almas eu o encontrarei.

O amor me tomou pelas mãos e me leva com ele. E se o amor é o guia

eu o sigo em completa alegria.

Mãos dadas caminhemos amor, eu e voce para galgar o eterno se for

De nosso merecimento.
Cira Munhoz

PARA VIVER O AMOR

Para viver o amor!

Para viver o amor é preciso que se renuncie a ele.

É preciso deixar que ele ande por todo o mundo como uma borboleta que não escolhe as flores a que beija.

Como reter o amor se volátil ele não se prende nem se deixa prender.

Amor-desapego.

Durante a noite, abriu os olhos e deu com os olhos do amado.
Estavas a me olhar? Porque não dormes?

Para não correr o risco de não sonhar contigo. Acordado te tenho sempre comigo.

Novamente ela dormiu sob os olhos de seu amado. Dormiu para não mais acordar.

Amanheceu e anoiteceu mil noites, e a amada não acordava.

Ela se fora não obstante os olhares e zelo do amado. Ela se foi. O que restou? Somente o amor.

O apego continuou ainda por muitas noites e dias a olhar a amada.

Enquanto isso o amor volitava com ela borboleteando pelo infinito.

Cira Munhoz

O LAGO E A LUA

O lago e a lua

No espelho d’água mirei a lua. Como era bela a lua.
Eu a contemplava como a criança que vê a imensidão e a ama, no entanto não a compreende.
E quando, mãos trôpegas vencidas pela viagem da vida eu tocava a água, a lua se escondia.
E mal novamente tocava o espelho no qual a lua se refletia e logo ela se ia.
Para onde iria a lua? Desisti de tocá-la. Passei a contemplá-la. Talvez houvesse um jeito de tocar a lua.
Muitas noites se passaram e eu entre o lago e a lua aos poucos me consumia.
Quando percebi que a lua não me pertencia, que distante ia dos meus anseios pagãos, passei a amar também o lago porque nele morava a lua que fugia da imensidão.
Amei, amei, amei o lago e a lua sem tocá-los. Só com o coração.
E só assim teve descanso minha pobre e trôpega mão.
Cira - a que finalmente entendeu a lua.

CONTEMPLAÇÃO

Contemplação

O amor me ensinou a contemplação.
Me ensinou que montanhas são montanhas, lagos são lagos e luas... bem, as luas são para os que sonham longe.
Me ensinou que a raiz é verdadeiramente a árvore que visceja, nem as folhas que beijam o orvalho podem tanto quanto ela.
E no alto da montanha o lago. E a arvore, com profundas raízes; lá de cima se vê a lua.
Ah ...a lua. Inatingível.
O amor me ensinou a contemplação que é amar sem ter. crer sem ver. Entender sem ouvir.
Que as montanhas trazem em si a essência dos lagos e das arvores e dela se pode ver a lua.
Oh porque fui te amar assim inacessível lua?
Na contemplação o amor me ensinou que meu acesso é ilimitado à tudo. Posso ter até a lua. Porque ela mora no céu do meu coração.
Cira Munhoz

BARCOS DE PAPEL


Fiz barcos de papel que navegam juntos com cisnes de origami.
Lindos e altivos os cisnes cheios de graça circundam os barcos na imaginária agua.
Dobras perfeitas em perfeitos barcos circundados de origamis. A nobresa dispensada ao papel ao executa-los.
E barcos e cisnes de repente são somente o papel nobremente dobrados.
Na agua da ilusão ambos navegam cheios de graça, e, na primeira onda, ao primeiro sopro de algum vendaval, tombam e se desfazem mostrando os papeis nem tão nobres que são.
Ainda farei novos barcos e muitos origamis, para provar ao papel de uma vez por todas que basta moldar-se e sabendo-se fragil evitar as aguas.
Cira Munhoz

ONDE ENTERRO MEUS TESOUROS

Onde enterro meus tesouros?

A frase ribomba em minha mente: o amigo se foi...
Como se consegue “perder” um amigo? Amigos são tesouros que se enterra no solo do coraçã0... è ali que devo procurar. Talvez haja um X enorme pintando em vermelho, um uma pedrinha bem colocada marcando o lugar.
Certa vez pensei: meu coração é um baú cheio de tesouros. Descubro que me enganei. Não é um baú. É uma mina cravejada das mais diversas preciosidades. Por toda parte onde olho o brilho destes se faz notar.
Mas há pedras preciosissimas totalmente descoloridas, sem brilho e sem cor, sem viço, como se fossem urdidas entre as paredes. Elas estão ali. Mas apagadas. Ainda que ocupem o mesmo lugar parecem nem estar ali.
Loucura ou lucidez? Frieza ou temperança? Ah... que desalento essa desesperança do amigo que se foi mas deixando marcado o seu lugar como se algum dia fosse voltar.
Amigos não se vão, nunca. Amigo não se perde. Apenas não levam a nossa amizade. Ficam retidos em nós sem nos levar em conta.
Pessoas fogem apenas do que não gostam. Amigos amam e se colocam ao lado.
Percebo que não se perde amigos. Se perde pessoas.
Sem bandeira ou sobrenome, sem endereço certo, pessoas se vão.
Amigos sempre deixam rastros para que possamos encontrá-los.
Eu sei onde enterro meus tesouros. Sinalizo sempre o local com uma tintura amorosa porque me são caros. Meus tesouros... o brilho de cada um deles faz a soma das cores que iluminam meu coração, quase um farol que me mostra sempre o local certinho dentro do peito onde enterrei meus tesouros.
Cira polindo as pedras preciosas em sua vida.

A BALA

A BALA

Não é a bala que mata, mas a mão que empunha a arma.
Uma bala encravada na garganta chamada indiferença e até descrença do amor, é mortal. Fatal. Final.
Com um tiro se derruba o pássaro mesmo no mais alto galho da alegria. Ou se derruba a machado a árvore da amizade deixando-lhe o tronco jogado, hirto, ermo.
Por deveras importante é o alvo derrubado. Não se gasta bala com alvos inúteis. Nem se afia o machado sem que a força da mão venha do coração.
Mas não é a bala que mata, é a mão que empunha a arma.Talvez no fundo eu tenha pedido para morrer mais essa morte, o morrer de querer bem.
Eu cantava em tua janela uma canção de amor, de irmão, de confraternização. E de tua janela veio o eco, aquele eco que tantas vezes voce dizia buscar sem achar, o eco da bala que me feriu a alma.
Eu cantava em tua janela, despercebida da dês-importância de ser pássaro e cantar.
O tiro veio de um jeito dissimulado, triste, trágico porque a mais mortal ( para a alma) é a bala da indiferença.
O mais triste de mais essa morte, é saber que nem enterrará o pássaro baleado amorosamente em tua janela. Nem usará a madeira da arvore ao léu abandonada.No chão apodrecerei porque preciso voltar ao pó. E serei apenas mais um pássaro que ao manejo de tua mão fadou-se à indiferença. Eu quis ser pássaro airoso de cores radiantes para encantar teus olhos, talvez fosse. Quis ser arvore com frutos para saciar qualquer fome de qualquer passante.
Meu irmão... onde quer que voce esteja, que Deus não te permita mais matar sonhos de irmãos. Que eu pássaro baleado, venha a me fossilizar no chão em que fui jogada ou me transforme em arvore caída, inerte, mas que nela voce venha a se sentar um dia e lembrar de amores irmãos torpemente baleados.
Irmão... não foi a bala que me atingiu... foi a mão fria que tocava teu coração.

Cira, descobrindo que a arvore caída pode gerar novos brotos e tornar a ser árvore com outras folhagens.

CARTA A ERNESTO

CARTA A ERNESTO

Meu caro Ernesto Rafael Guevara de la Serna, mais conhecido como Che é a primeira vez que “te escrevo” mas há muito tempo penso em voce e na forma incorruptivel com que levou a vida.
Para muitos, voce foi um assassino em massa, alguem que dizimou vidas em prol de uma revolução sem sentido. Para tantos outros voce foi símbolo de importância mundial, e representa a luta contra a injustiça social. Tua rebeldia e espírito incorruptível se tornou marco para muitas lutas justas e quase até um divisor de aguas.
Para mim voce não foi nem uma coisa nem outra, para mim voce foi um exemplo claro de alguem que se doou totalmente à causa do bem e dos menos favorecidos.
Sabe Che, muitas vezes olhei para essa tua foto que tiveram a frieza de tirar assim que voce morreu, mais para mostrar que voce perdeu, do que para demonstrar o homem valente que foi.
Fez bem em partir daqui meu amigo, aqui as coisas andam de mal a pior porque não existem Ches dando sopa, não existem mais homens leais às suas causas. E se causas existem são para vilipendiar o bem alheio, para desfraldar bandeiras de maus atos e maus propósitos.
Vejo exemplos como o teu e de outros tantos que foram notórios e me pergunto: onde andam aqueles que se movem pelo bem comum? Onde estão as pessoas que são capazes de morrer pela causa humanitária? Onde estão os que tem causas a defender além de contabilizar bens materiais, títulos e ilusões?
Olha Che, o mundo aqui embaixo ta frio. E anda frio porque as pessoas se tornaram mornas. Não ha lealdade, companheirismo, solicitude, honra. Tudo isso virou passado e os poucos que agem dessa forma são taxados de loucos, babacas e outros nomes.
Olhando essa tua foto e vendo a serenidade que ficou marcada em teu rosto senti saudades do tempo em que o ser humano era movido pelas causas nobres. Imagino como voce pôde ter essa fisionomia serena num momento de luta e de morte. Talvez seja porque teu espirito era de paz e tua luta era pela paz.
Hoje se luta pela luta, não pela causa. Hoje se combate pelo prazer do combate e ainda dizem que lutam pela paz.
Bem meu amigo, senti vontade de falar com voce. Fiz algo como o sentido inverso da psicografia. Um encarnado enviando mensagem pra um desencarnado. Tenho essas maluquices, não repare.
Sou tão maluca que quanto mais analiso o mundo em que vivo, o mundo que fica para meus filhos e netos me vejo disposta muitas vezes a esse ato tresloucado de morrer pela minha causa que nem é tão nobre quanto a tua já que não sei lutar; minha causa é apenas o anseio imenso de querer que esse mundo mude um pouco e que hajam novos Ches e outros revolucionários capazes de se doarem pelo bem da humanidade. Mande meu abraço para tantos outros que estiveram neste planeta e como voce lutaram e morreram desejosos de que o bem fosse o lema do homem.
Deixo um abraço meu querido Ernesto, to por aqui querendo fazer uma revolução a nivel espiritual sem nem saber direito qual é a minha missão. Mas to indo. Que Jesus nos ajude a entender o mundo.
Ah, mais uma coisa: obrigada pelo exemplo que poucos entenderam, mas que ajudou a muitos.
Valeu Che- da face serena diante da dor e da morte.
Cira Munhoz- sou de JESUS ( por Ele eu morreria com toda a certeza)

O QUE VOU SER QUANDO MEUS FILHOS CRESCEREM?

O QUE VOU SER QUANDO MEUS FILHOS CRESCEREM?

Lá vem noticiário de terremoto e furacão nos EUA.
Coração apertado, lembro que minha filhota e neta lá estão. Aquela menina que trançava os cabelos da boneca, hoje põe laços de fita nos cabelos da filha e mora lá tão longe.

Da filha recordo o semblante infantil, o riso frouxo, as brincadeiras de meninice e as gargallhadas irritantes nos momentos mais inadequados e sem qualquer motivo. Da neta? Só o que conheço por fotos e vídeos.

E pensando em filhos(3) e netos(3) me passa um pensamento: o que vou ser quando meus filhos crescerem? Quando pequena me perguntavam o que eu seria quando crescesse e a resposta era vasta dependendo do momento. Queria ser pianista ( toquei minhas sinfonias no teclado da vida mesmo sem ter chegado perto de qualquer piano); queria ser cientista ( quantos inventos mal inventados em minha cabecinha daqueles tempos); ah, também queria ser atriz para representar Mary Poppins( voar era preciso), se bem que voei muito e vivo voando: pé no chão e cabeça nas flutuantes nuvens da vida.

Queria ser tantas coisas quando menina! Cresci e hoje vejo meus filhos e netos crescendo e cada um escolhendo seu caminho, crescendo como pessoa, mostrando um poder de decisão e escolha que no meu tempo não havia.

Todos cresceram e já são o que querem ser, e são grandes pessoas! Tão iguais a mim e tão diferentes de mim.
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Uma frase de uma carta( Suzanny):
Querida mãezinha:
Sabe, quanto mais amadureço mais encontro pedaços de voce em mim, é até engraçado as vezes( mas deixa quieto, rsrs)
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Uma pergunta ( Cyro aos 10 anos):
Vovó, voce é feliz com o que tem?
Sim sou feliz.
Então voce é sábia.
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Um comentário ( Pedro aos 7 anos)
Vovó, quero ser bom porque voce diz que a transição não é no planeta e sim dentro da gente.
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Um depoimento (Fernanda)
Por mais que o tempo passe e as estações se movam, ainda será minha estrela!
Será pra mim sempre bela, sempre amiga.
Podem todos me crucificar, mas sei que saberá a verdade e irá me defender.
Gostaria que estivesse presente em todos momentos felizes e tristes.
Por mais que eu cresça e amadureça,sempre serei seu fruto.
Te amo de forma insubstituível!
É robusto meu amor, é sincero meu afeto.
Com muito carinho estou pensando em você, pois de carinho me alimenta.
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Uma bronca ( Matheus)
Voce me ama tanto que nem percebeu que eu cresci...
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Eu? O que vou ser quando meus filhos crescerem?
Talvez seja a velha arvore que ao longo dos anos perdeu suas folhas; estas ao caírem brotam e se tornam arvores.
Eles cresceram!
Descobri!!!!
Eu sou o fruto das arvores que semeei.
Graças a Deus.
Cira Munhoz

O QUADRO

Ali estava ele ( o quadro) a olhar para mim e eu olhando pra ele. Não fazia sentido algum ele estar ali.
resolvi guardá-lo e não mais ver, afinal ressentida com ele ( o pintor,não o quadro) não fazia sentido manter viva a lembrança dos dois ( o pintor e o quadro).
Um certo rancor no ar...
Retirei-o da parede com um misto de alivio e dor. Para não ver a pintura virei-o de costas ( o quadro),
e lá estava um pequeno mapa que me mostrava em palavras o tesouro:
Para Cira Munhoz que me mostrou que a vida é feita de azuis.
Novamente na parede ( o quadro) ele se esvaneceu ( o rancor) ficou apenas uma saudade sem começo, meio ou fim.
Cira Munhoz

Ó COM O COPO ( OU ILIMITADAMENTE)


Ó COM O COPO ( OU ILIMITADA MENTE)

Então fica assim: o teclado mudo e minha mente gritante!

Coisa maluca isso de colocar num papel coisas que a gente sente. Escrever é como conto de fadas onde tudo é possível e o imaginário é campo vasto e fecundo. Sei...

Mas se fosse assim tão fácil não precisaria da emoção. Descubro que dedos precisam de emoção, só assim as palavras fluem na caneta ou teclado. E, se bem pensado, quando se planta uma flor, os dedos que trabalham estão fartos e preenchidos de emoção que por sua vez vem do amor: ama-se a flor desde o momento em que se escolhe a semente. Essa é a essência da flor: ser amada desde antes de ser.

Conjecturas apenas, pois o teclado continua mudo à minha frente.
Mas, a minha limitada mente me diz: conte.
Contar o que oh ilimitada mente? Sei lá - ela responde - apenas conte.

No apartamento ao lado a vizinha ouve Noites Traiçoeiras no volume máximo. Melhor ouvir musica na vizinhança do que tiros!

Me pego a pensar em sementes: sementes de plantas, sementes de amor, sementes de todas as espécies que conhecemos ao longo da vida. Algumas aproveitamos, outras deixamos ao lado como se dentro delas não houvesse um quê de vida e esperança.

A vizinha resolve dar um “bis” em noites traiçoeiras e as palavras ribombando em meus ouvidos, até que me deu um clic, um insigth.
O que são afinal as mensagens que a vida nos dá, senão sementes oferecidas, que plantadas em nosso coração ( ou não) são nossas?

O mundo pode até fazer voce chorar, mas Deus te quer sorrindo!

Olha que semente linda a vizinha me deu logo cedo: Deus me quer sorrindo. Isso é emoção, saber que Deus está atento às minhas emoções, às sementes que dou ou recebo. Junto com a emoção de saber-me viva vem o amor. Coisa estranha sentir amor dessa forma. Não por uma pessoa, nem pela música, nem pelo teclado à minha frente. È amor. Assim. Amor pela vida.

Conte, conte - me diz a ilimitada mente.

Palavras limitam sentimentos e emoções. Não se transforma em palavras o amor que a gente sente.

Minha filha dos EUA me liga enquanto escrevo, dando noticias. O furacão perdeu forças. Tá tudo bem. Meu coração ganhou forças, e tome emoção e amor! Aff.
Mais um sinal que, se somado á musica da vizinha me dizem que Deus me ama. A ligação acaba de plantar em meu coração uma semente de esperança. Ta tudo bem, viu mãezinha?

Desisto de escrever. Não sei fazer um ó com o copo. Mas que fique registrado em minhas notas que de amor eu sei, eu o sinto. E Deus ta comandando tudo: a emoção, o amor, as palavras, e as sementes que Ele planta em cada coração.

É isso, a mente é fértil, o vocabulário nem tanto.

Obrigada Deus, por tudo. Até por esse texto que queria ser, mas não foi. Mas, como semente escolhida, amei escrever antes mesmo do teclado emudecer.
Cira Munhoz

CAFÉ COM DROPS

CAFÉ COM DROPS




Tarde de domingo; a noite já se avizinha de minha janela.
Na TV, Shrek e Fiona. O bom da TV a cabo é isso: podemos pagar para assistir o que a Globo apresentou de graça horas mais cedo. Mas na casa de bom anfitrião quem manda é a visita:
- tia Cira, posso ver Shrek?
Lá se vai o controle remoto pras mãos do menino. Não resta muito a fazer. Ah, um café vai bem. Fico na dúvida entre pão e biscoito já que uma das visitas tem comido o pão que o diabo amassou. E com o rabo. Vai ser café com pão e biscoito; resolvido.
O cheiro do café já se espalha pela sala e alguém murmura alguma coisa e da cozinha eu ouço:
-disse alguma coisa?
-disse que a Fiona é lindinha.
Parei e reparei na Fiona. Lindinha mesmo ( para um ogro fêmea).
De volta a cozinha fiquei num bate papo mental com a tal Fiona, pensei mesmo em lhe enviar uma carta, mas talvez o carteiro não vá ao pântano para entregar.
Olha Fiona admiro muito voce, tão jovem e tão feliz com teu aspecto “ogral”. Voce é bem bonitinha mesmo. Tudo bem que eu também sou bem bonitinha pra alguém da minha espécie: um ET. Tenho meus 51 anos com um corpinho que aparenta 28, 30 no máximo, e um rostinho que aparenta 87 no mínimo, e ainda bem, imagina uma ET perfeita... seria o caos.
Mas voltando a voce Fiona, muito interessante tua forma de conviver com ogro, também tenho um em casa ( ele não acredita em ETs, mesmo me vendo todos os dias); conviver com burricos falantes... puxa só voce mesmo Fiona ( se bem que convivo também com alguns burricos falantes que como no filme me enchem o saco, mas em contrapartida alegram minha vida). Só fico com pena porque na verdade não são burricos, fazem de burros pra angariar cuidados. Mas, deixa quieto.
E tem também os gatos de botas ( os espertos) que fazem olhinhos que cortam o coração, mas na hora de puxarem suas espadinhas são rápidos e certeiros.
Estou até me achando muito parecida com voce, ou talvez o meu mundo com o teu. Voce vive cercada de personagens de contos de fadas. Até fada madrinha tem. Aqui também vejo tantos personagens a minha volta. Tem pra todo gosto e toda hora, faz-se a ocasião e lá vem alguém travestido num personagem doce e ingênuo. Ninguem gosta de ser o lobo mau.
Sabe Fiona, aqui tem muitos flautistas de Hamelin. Não usam flautas, usam a internet.
( internet é uma coisa do meu mundo onde todos se conhecem mas poucos se viram ou verão; onde pode-se dizer tudo, escrever tudo e tem gente que acredita em tudo. Fácil assim.
Bom para os flautistas que arrebanham centenas de milhares de desavisados.
Tem as cinderelas que deixam sempre um sapatinho perdido na esperança que o príncipe os encontre; geralmente quebram a cara já que a spatifillus e a arezzo tem lojas pra todo lado e os príncipes atuais gostam de luxo; As belas adormecidas que esperam pelo beijo; como te disse tem personagem pra todo gosto.
Anda em falta somente os que assumem sua “ogrice” e dizem a que vêm. Agora fiquei na dúvida se sou mesmo uma ET ( é assim que me sinto com todo mundo me olhando como se eu fosse um quadro abstrato), ou se sou ogro também.
O ruído na sala me tira do dialogo louco e mental e volto pra sala. Mesa parcamente posta, vejo uma pastilha halls que no meu tempo ( bom e velho tempo) era chamada de drops.
Todos se sentam à mesa.
Brinco com o drops enquanto se servem. Encho a xícara com o café forte e pouco açúcar.
- Não vai comer pão?
Tomo um gole do café e coloco o drops na boca ao mesmo tempo. Coisa de maluco!
- Cira, as vezes voce parece que não é desse planeta.
Viu só Fiona? Parece que sou mesmo um ET.
Vai um drops aí?
Cira

dentro de mim

dentro de mim


Carrego dentro de mim dois Corações...
Um é Tufão.. o outro calmaria.
Um encara a Realidade
O outro vive de Poesia.
(Sawabona…

O CORAÇÃO É DALTÔNICO

O CORAÇÃO É DALTÔNICO

Acho que gente é feita de luz. Mas não só de luz são as pessoas: são cores também!
Cada um, regido por um raio colorido dependendo de sua ascendência e nível espiritual.
Gente tem cor. E tem cor pra toda gente. Mas, no fundo são todos iguais. Não consigo diferenciar pessoas, são todas iguais em amor, luz e cor.
Acho que meu coração é daltônico...
Cira Munhoz

ENSAIANDO VÔOS


Ensaiando vôos

Quando algo turba minha paz, gosto de morrer. Deixo morreu o Eu e tudo volta a ser ventos de paz. Vento brejeiro e benfajezo.
Porque independente do que há em mim, lá no fundo do meu Eu, só o amor vale a pena.
Por isso gosto de morrer. Tanto que já nasci morrendo. Um pouco a cada minuto e nesse morrer constante renasço lépida como a borboleta que vence o casulo.
Amo borboletas pois elas me ensinam a morrer lagarta e renascer para o voo. E se por fora finjo que já desisti de tudo, há dentro de mim uma força hercúlea que me move, remove e reconstrói.
Eu aprendi a voar depois de saber rastejar, andar e galgar o muro que meu Eu me impôs por séculos.
O único rumor que há em mim é o farfalhar de asas borboleteando entre um morrer e outro.
Alguns me acham rasa exatamente quando sou profunda. Outros me veem profunda quando as aguas do entender mal alcançam meu entendimento.
Minha alma é leve porque aprendi a voar e voando aprendi que o céu é o limite e entre voar e limiar os céus, morrer de si, do Eu é o verdadeiro encontro com a vida.
Sou paradoxo, sou prolixa, sou preguiça de viver no acalanto dos afãs vãos e perdidos em mesmice.
Saí do sonho para brincar nas arenas. Nas arenas da vida aprendi a morrer para conhecer a vida. E vivo. E estou viva e não morrerei facilmente, afinal aprendi a voar e quando se voa só o céu é o limite. E lá entre o voar e o limiar dos céus descobre-se que não se morre nunca, apenas se deixa os casulos de lado: do apego, do egoísmo, do medo de não viver.
Cira Munhoz- ensaiando voos